Pedofilia: Identificar e Prevenir - Livro


Autora: Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams
Editora: Brasiliense
Páginas: 112
Publicação original: 2012
Gênero: Psicologia

Sinopse: Em uma abordagem original e esclarecedora do polêmico tema de pedofilia, cuja discussão se faz cada vez mais urgente e necessária na sociedade contemporânea, este livro informa, desvenda mitos e enfrenta, com leveza e precisão conceitual, tabus que dizem respeito a todos nós. A autora, renomada psicóloga e professora da UFSCar, alia aqui grande conhecimento científico a uma linguagem clara e acessível, o que torna a obra abrangente e indispensável tanto para acadêmicos e pesquisadores, como para o público em geral.

Classificação: Ótimo (Ruim, Regular, Bom, Ótimo)

Resenha: Abordar o tema pedofilia não é fácil, ainda mais quando o público alvo também são pessoas legais que não possuem nenhuma formação a respeito deste assunto. De forma objetiva e leve, a autora Lúcia Cavalcanti de Albuquerque Williams, em 103 páginas consegue fazer um excelente trabalho informativo e esclarecedor a respeito desta patologia. O livro é iniciado distinguindo o crime do transtorno; a pedofilia é um transtorno que pode ou não resultar no crime, que é o abuso sexual praticado contra crianças e adolescentes. Desta forma, a pedofilia em si não é um crime, crime é quando o abuso sexual é consumado. 

Por ser considerada uma doença mental, a pedofilia está classificada no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (conhecido pela sigla inglês DSM), publicado pela Associação de Psiquiatria Americana. A autora enfatiza os critérios e a definição da pedofilia:

"Como o DSM atualmente define a pedofilia? Com base em três critérios, ou seja, a pessoa precisa apresentar:

a) Ao longo de um período mínimo de seis meses, fantasias sexualmente excitantes, recorrentes e intensas, impulsos sexuais ou comportamentos envolvendo atividade sexual com uma (ou mais de uma) criança pré-pubere (geralmente com idade inferior a 13 anos).

b) As fantasias, impulsos sexuais ou comportamentos causam sofrimento clinicamente significativo ou prejuízo no funcionamento social ou ocupacional ou em outras áreas importantes da vida do indivíduo. 

c) O indivíduo tem no mínimo 16 anos e é pelo menos 5 anos mais velho do que a criança ou crianças no Critério a."
O DSM recomenda que não se deva atribuir tal diagnóstico a um indivíduo, na fase final da adolescência, que estiver tendo um relacionamento sexual contínuo com uma criança de 12 a 13 anos de idade. 
Como na época em que o livro foi escrito o DSM estava em sua quarta edição, a autora propõe, através de Grupos de Trabalho, mudanças na quinta edição.

A consistência da abordagem do tema também conta com inúmeras referências bibliográficas internacionais, entre elas a de Ray Blanchard a respeito do diagnóstico:

"... tanto o comportamento de encarar crianças, quanto o de planejar e dar um jeito para ficar próximo a elas não são sintomas primários de pedofilia, o que não significa que ambos não possam ajudar o clínico a confirmar um diagnóstico... entretanto, dois comportamentos altamente associados ao transtorno, resultante de seus vários estudos: a aquisição de pornografia envolvendo crianças e conversas virtuais sexuais (chats)..."

No capítulo seguinte a autora derruba dez mitos a respeito da pedofilia:

1) Todo abusador de criança é um pedófilo: "A pesquisa específica da área é unânime em afirmar que nem todo ofensor de crianças é um pedófilo, assim como nem todo pedófilo é um abusador de crianças. Embora no dia a dia, leigos chamem qualquer ofensor sexual de pedófilo, como já vimos, o indivíduo pode apresentar fantasias eróticas com crianças, mas consegue se controlar, sem abusá-las..."

2) Homens gays têm mais interesse sexual por crianças do que os heterossexuais: "Há pesquisas antigas de Kurt Freund, pesquisador nascido da República Tcheca antes de emigrar para o Canadá, criador do teste falométrico, comprovando NÃO ser verdadeira tal afirmação, embora ela seja injustamente frequente no imaginário da população..."

3) Só os homens apresentam pedofilia: "Apesar de ser muito mais raro, as mulheres também podem apresentar o transtorno de pedofilia, bem como podem ser ofensoras sexuais "situacionais". Embora se desconheça a prevalência da pedofilia no geral, acredita-se com base em estudos da literatura norte-americana que ela seja inferior a 5%..."

4) Não há tratamento para a pedofilia: "O fato do transtorno ainda não ter cura (mais e mais as pesquisas apontam para problemas estruturais e funcionais no cérebro das pessoas com pedofilia, combinado a um histórico ambiental adverso na infância), pode levar à crença inadequada de que não há tratamento. Longe de ser verdade, o tratamento considerado eficaz atualmente envolve uma combinação de ajuda medicamentosa e terapia cognitivo-comportamental para trabalhar as atitudes, emoções (como aumento de empatia pela vítima), crenças e comportamentos do indivíduo que aumentariam o autocontrole, diminuindo e eliminando agressões sexuais a crianças..."

5) O ofensor sexual é facilmente identificável por sua aparência, etnia ou conduta: "Não há um perfil para o ofensor sexual. Como já vimos até agora, a sexualidade humana é muito complexa e envolve uma gama vasta de preferências sexuais. Isso significa que o ofensor pode ser homem ou mulher, heterossexual ou homossexual, com transtorno de pedofilia exclusivo e só sentir atração sexual por crianças, ter o transtorno e também sentir atração por adolescentes, ter alta ou baixa escolaridade, estar ou não empregado, ser de diversas etnias, ser solteiro ou casado, e assim por diante..."

6) Toda criança que sofreu abuso sexual irá um dia ser um ofensor: "Um histórico de abuso sexual tem sido considerado RISCO para futuras agressões, mas jamais de modo categórico ou determinista, pois a probabilidade dependerá de inúmeros fatores de proteção, bem como outros fatores de risco, como a gravidade e duração do abusivo sofrido..."

7) Apenas as meninas apresentam problemas decorrentes do abuso sexual: "Para o psicólogo Jean Von Hohendorff, que fez o seu mestrado no Rio Grande do Sul, atendendo meninos que foram abusados sexualmente, o abuso pode tornar os meninos mais confusos sobre a própria sexualidade. Além disso, meninos que sofreram abuso sexual não costumam falar sobre o ocorrido, o que pode gerar culpa, raiva e ansiedade..."

8) As pessoas com pedofilia são isoladas e desarticuladas: "Diferentemente do esperado, há um ativismo político aberto da parte de indivíduos com esse transtorno nos Estados Unidos e em alguns países europeus, que se mobilizam para convencer o público de que a pedofilia não é um problema de saúde mental. Tais grupos fazem pressão política para baixar a idade consensual de o adulto fazer sexo com a criança, para legalizar a pornografia infantil e para que a pedofilia seja encarada por médicos e psicólogos como sendo uma orientação sexual e não uma parafilia, fato longe de ter sido acatado pela área de saúde e da população em geral. No Brasil tal ativismo é praticado nos bastidores, tentando influenciar leis que favoreçam a pedofilia, sem identificar abertamente nomes. Portanto, é preciso ficar atendo a grupos que forçam para que sejam aprovadas leis envolvendo crianças, de modo rápido, sem a  devida discussão pela sociedade e por especialistas, principalmente quando houver recursos fartos sendo disponibilizados e não se identifiquem as fontes."

9) A pessoa com pedofilia geralmente aborda crianças utilizando-se da violência física: "A pessoa com pedofilia raramente utiliza violência física. Sua conduta inicial consiste em aliciar, seduzir e ganhar a confiança da criança com objetos que a atraem... Desta forma, o adulto passa a ter também a confiança da comunidade, ficando mais difícil ser notado o delito, ou mesmo se a criança fizer uma revelação do abuso (termo técnico para descrever o relato da criança sobre o abuso sexual sofrido), ela perderá a credibilidade, pois está acusando um 'cidadão acima de qualquer suspeita'."

10) A única prova eficaz para a comprovação de abuso sexual é o Exame de Corpo de Delito: "Advogados, médicos legistas e policiais geralmente insistem e reforçam tal mito afirmando que, por não haver  um Exame de Corpo de Delito positivo, não há evidência da ocorrência do abuso sexual. Vejam o exemplo absurdo retirado de um laudo médico: 'Não houve rompimento do hímen, logo não pode ser afirmado que houve violência sexual'. Ocorre que o abuso sexual mais frequente não deixa sequelas físicas, embora possa traumatizar em demasia a criança. Ocorre, ainda que todo ato sexual envolvendo abuso sexual da criança e do adolescente é por definição um ato de violência, então não há lógica na afirmação acima.


Quando a criança sofre abuso sexual, diferentes sintomas podem ser observados, como a ansiedade, atrelada com medos intensos e pesadelos:

"Quando os sintomas de ansiedade forem muito intensos, há a possibilidade de a criança/ adolescente apresentar Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), quadro caracterizado pelo fato de a criança reviver o episódio do abuso em recordações ou brincadeiras, flashbacks ou pesadelos dolorosos, acompanhado de um entorpecimento emocional (desinteresse por atividades que antes eram lhe eram prazerosas) e uma excitação fisiológica crônica, na qual ela pode ter respostas de sobressalto ou sustos exagerados, distúrbio no sono e passar a evitar lugares associados ao episódio do abuso sexual, ou mesmo se recusar a falar sobre esse acontecimento traumático."

O livro é uma excelente ferramenta informativa e o seu conteúdo mostra como os sintomas mais comuns da vítima de abuso e quais ferramentas podem ser empregadas para amenizar o sofrimento. O apoio da família, a intervenção psicológica e as medidas penais estão esmiuçadas de modo bem objetivo. Ideal para quem tem filhos ou trabalha com crianças, pois com o conhecimento a cerca da pedofilia, a identificação dos abusos e a prevenção se tornam eficazes.

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Um comentário:

  1. Olá!Vi um post seu de alguns anos atrás e queria ainda assim entrar em contato com você a respeito dele.É o que fala de relacionamento...preciso da sua opinião/ajuda.
    Bjs

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