Todos nós
temos nossos próprios pensamentos e crenças relacionados a situações
específicas, o que faz com que tenhamos opiniões personalizadas, ou seja, única
para cada sujeito. A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) explica como isso
ocorre através do conceito de Pensamentos Automáticos, que são um fluxo de
pensamentos que coexistem com um fluxo de pensamento mais manifesto (Beck,
1964). Quando um pensamento automático é disparado não se costuma ter
consciência do mesmo, ou seja, não se está ciente dele. Muitos transtornos
psicológicos, como Transtorno do Pânico, Depressão e Ansiedade, estão
associados com pensamentos automáticos que não condizem com a realidade. A
pessoa toma esses pensamentos como realidade absoluta, fazendo com que seus
sentimentos estejam relacionados a eles, gerando algum comportamento
disfuncional. Isso é muito nítido quando alguém toma para si o pensamento de
que é rejeitado por todos ao seu redor, gerando tristeza. Quando o quadro se
agrava ao ponto da depressão ser diagnosticada, o comportamento produzido pelo
pensamento automático é o de não sair de casa, impossibilitando ir ao trabalho,
à faculdade, à escola ou à rua, pois todos os indivíduos desses lugares não
gostam dessa pessoa. Neste caso, especificamente, o pensamento automático está
associado à crença de rejeição.
É quase
impossível um sujeito despertar tanta rejeição ao ponto de ser rejeitado por
absolutamente todas as pessoas que cruzem o seu caminho. O mais surpreendente é
que a interpretação irreal dos eventos vivenciados não são tão difíceis de
serem produzidas e tidas como verdade absoluta. Diante dessa percepção, mesmo
sem a definição oferecida pela TCC, Pablo Picasso e Georges Braque fundaram - no
início do século XX - o Cubismo. Este foi um movimento artístico considerado
mental, onde a representação do mundo era desprendida de qualquer compromisso
com a aparência real das coisas. Assim, as pinturas chamavam a atenção por
fugirem das formas perfeitas e tradicionais retratadas há tanto tempo pela
arte. Sua expressividade foi tanta que alcançou a poesia e a literatura.
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Nas artes
plásticas, as formas do cubismo eram tratadas por meio de figuras geométricas
em uma superfície plana, na qual a estrutura dos corpos e objetos se movimentassem
em torno de três dimensões, sendo visualizado através de todos os ângulos
visuais, seja por cima ou por baixo, percebendo-se em todos os planos e
volumes.
(Quadro “Les Demoiselles d'Avignon” – Picasso, 1907)
No filme “O
Mistério de Picasso”, produzido em 1955 e lançado em 1956, o diretor Henri-Georges Clouzot
convence Picasso a pintar 20 telas especiais de forma que quem estava atrás da
tela conseguia ver a caneta formando o desenho. O artista surpreende a cada
minuto ao fazer um desenho e logo em seguida fazer outro, totalmente diferente,
gerando outra forma específica com a junção dos anteriores. Com exímia técnica
de criação e traços fortes e expressivos, Picasso mostra por que é considerado
um dos grandes nomes da arte.
A percepção
distorcida das coisas se torna admirável nas artes, poesia, literatura, cinema
e arquitetura. Mas quando a sua externalização não está associada ao viés
artístico, é capaz de produzir sentimentos e crenças negativas. Estar ciente
dos pensamentos automáticos, promovendo uma checagem de realidade baseada na
reflexão do real, é evitar mudanças drásticas de humor que podem acarretar
prejuízos na socialização, no baixo rendimento profissional e escolar. No
primeiro momento pode parecer difícil identificar os pensamentos automáticos,
as crenças centrais e as crenças intermediárias, mas a Terapia
Cognitivo-Comportamental oferece inúmeras técnicas que possibilitam a
identificação e promovem pensamentos alternativos, fazendo com que um
sentimento ruim seja amenizado, ou seja, percebido por outro ângulo de forma a
ressaltar o caráter positivo do mesmo.
O Centro
Cultural Banco do Brasil (CCBB), com a colaboração do Museo Nacional Centro de
Arte Reina Sofía e a Fundación Mapfre, oferece até o dia 07 de setembro a
exposição “Picasso e a Modernidade”, com cerca de 90 obras que evidenciam
Picasso na arte moderna espanhola e os traços mais significativos e originais
da sensibilidade artística que o pintor e seus contemporâneos espanhóis
imprimiram ao cenário internacional das artes.
Autopsicografia
O
poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.
E
os que leem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.
E
assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.
(Fernando Pessoa)
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