Seu pai havia viajado na sexta para visitar seus irmãos no interior, Mariana gostou da casa vazia, pois assim tinha mais tempo para estudar para as provas do concurso que ia fazer dentro de alguns meses. Dormiu bastante na noite de sexta para o sábado, arrumou suas coisas, lavou suas roupas e leu os dois livros que faltavam terminar. No final da tarde, deu um banho em seu pastor alemão e como seu pai não estava, deixou ficar em seu quarto, o cão gostava de deitar em sua cama, mas só deixava quando ele estava bem limpo.
Sua amiga ligou convidando-a para ir a uma festa que ia acontecer na casa de uma amiga, porém mesmo com vontade de ir, foi firme em sua decisão: - Bianca, não posso, tenho que estudar, prometi ao meu pai que ia ficar o final de semana em casa para os estudos do concurso da prefeitura.
A amiga entendeu, afinal também ia fazer a mesma prova, porém não tinha o costume de ficar estudando em casa nos finais de semana.
A luz do sol aos poucos foi enfraquecendo, e o pastor alemão em cima da cama olhando atentamente para a tela da tv que exibia um especial do Alasca, proporcionava uma cena ao menos curiosa, assistir televisão era o passa-tempo preferido dele e o mantinha menos agitado. Mariana se mantinha concentrada em seus estudos e finalmente anoiteceu, - Peter, acho que vai chover! disse ela para o seu cão enquanto fechava as janelas por causa do vento. Não deu outra, logo em seguida começou a tempestade. Em sua mente pensava: - Ainda bem que não fui para a festa com a Bianca, para voltar seria horrível.
Preparou a janta, leu mais um pouco e por volta das 22:30hs, fez uma prece para sua mãe e foi dormir. Peter deitou na ponta da cama e estava todo contente com o conforto dela. Em sono profundo, sonhara com sua mãe, infelizmente isso só acontecia de vez em quando. Mariana estava percorrendo um parque com um bonito verde da grama, o sol estava lindo e lá estava sua mãe sentada, como se estivessem marcado um encontro. No seu íntimo, sabia que não passava de um sonho, mas tudo parecia bem real. Elas se abraçaram fortemente, como na última vez. Era sempre o mesmo lugar. Deitou-se no colo da mãe, esta começou acariciar seus cabelos, como fizera muitas vezes quando ela ainda era uma pequena. Elas conversavam, porém ao acordar, Mariana não se lembrava de muita coisa, apenas sentia uma grande saudade dela, ao ponto de chorar durante o dia todo.
- Filha, ao acordar, não chore desesperadamente. Fico triste por deixá-la nesse estado. Quanto mais ficar desse jeito, menos nos encontraremos. Sabe muito bem que estou bem e amo estar com você.
- Sinto muita falta sua, meu pai também sente e de vez em quando encontro ele olhando nossas fotos de madrugada quando vou ao banheiro e passo pela porta do quarto dele. As pessoas dizem que é loucura encontrar alguém em sonho e ao acordar, não sei se tudo isso foi verdade ou apenas coisa da minha cabeça. Não me resta nada senão chorar.
- Minha lindinha, o importante é o que seu coração sente e não o que as pessoas dizem. Algumas pessoas sonham, porém as que não têm fé dizem que tudo é coisa da cabeça, mas não é bem assim. Em pouco tempo, talvez possa lhe provar isso.
Os estrondos dos trovões a acordaram, para ela havia sido tão real que ao perceber que era um sonho, ficou triste. Olhou para o Peter, ele já estava olhando para a janela com suas orelhas em pé prestando atenção nos clarões das trovoadas. Mariana tinha apenas 12 anos quando perdeu sua mãe para a leucemia. Ao terminar sua prece, foi até a cozinha pegar um pouco de água, e o cão foi atrás. Cada palavra dita no sonho ainda estavam em sua mente - o que ela quis dizer quando disse que ia me provar que não era um sonho? se perguntava enquanto bebia a água.
Voltou para seu quarto, pegou o álbum de fotografia, com as últimas fotos da família unida e começou a chorar, ao ver o choro, Peter veio devagar para se esfregar nos braços dela, sempre fazia isso para pedir carinho quando ela começava a chorar. Ele foi o último presente de aniversário de sua mãe. Após alguns longos minutos, ela resolveu dormir, colocou as fotos na mesa de estudo e apagou as luzes. Tinha esperança de sonhar novamente com sua mãe. Fechou os olhos e pensou nela. Antes que pegasse no sono, Peter começou a latir. Mariana abriu os olhos, viu o seu pastor alemão latindo para uma silueta que estava na sua porta. Seu coração disparou, não sabia o que era aquilo, pensou que poderia ser algum assaltando. Ignorando os latidos, a luz ficou mais forte e em seguida se apagou revelando-se ser a sua mãe. Instantaneamente, Peter parou de latir.
- Mãeeeeee????????!!!!!!!!! gritou assustada
- Não lhe pedi para parar de chorar e ficar triste? Os espíritos superiores atenderam suas preces e me permitiram vir aqui te visitar. Sabiam que já estava preparada.
Mariana sentia uma explosão de sentimentos e emoções. Abriu um sorriso e levantou-se da cama para sentir o toque de sua mãe em um abraço gostoso e intenso.
- Não duvide dos nossos sonhos. Não ligue para o que dizem...
- Mas ligue para o que sinto - completou a frase que sua mãe sempre lhe dissera nos sonhos
- Tenha a mente aberta, minha filha. Continue essa filha maravilhosa e cuide do seu pai. Se ele estiver preparado, apareço para ele também. Já começamos a nos encontrar nos sonhos, mas por enquanto ele continua a achar que tudo é apenas um sonho.
Os braços de sua mãe se estenderam para um longo abraço final. Em seguida, ela desapareceu.
Peter olhava tudo com suas orelhas em pé. Mariana ficou super feliz com aquilo e fez uma nova prece. Ao se ajoelhar no chão e cruzar os braços sobre a cama, encontrou uma foto das duas juntas. Ainda não tinha visto esta foto. Sua mãe costumava escrever atrás delas, virou a foto e estava escrito: "Filha amada, estarei sempre ao seu lado e em seus sonhos." Correu para Peter e fez intensos carinhos nele, começaram a brincar e seus olhos estavam brilhando de felicidade, suas risadas eram lindas e gostosas de ouvir. Seu sorriso era capaz de iluminar o mundo inteiro e agora estava muito longe de parecer àquela garota que andava triste e sem sorrir.
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